quinta-feira, janeiro 12, 2006

Para que conste

Posso orgulhar-me de ter sido o único português a ter requerido voto antecipado no Consulado de Portugal em Barcelona. Sim, foi mesmo assim. Segundo um documento que me mostraram, enviado à Comissão Nacional de Eleições, «até à data [por mero acaso, a data limite], apenas nos foi requerido o voto antecipado pelo cidadão André Cunha da Costa Gualter de Vasconcellos [i.e., moi même]». Depois de ter ido ao Consulado umas 3 vezes, e em todas elas estarem comigo, na sala de espera, mais 2 ou 3 conterrâneos, a situação é no mínimo estranha.
E para que conste, urbi et orbi, que ontem cumpri tao elevado dever cívico, aqui vos deixo a prova:


A propósito do tema, permitam-me que vos conte uma caricata história que lá se passou há dias. Na primeira vez que lá fui, estava ao meu lado, na sala de espera, o típico zé povinho português, de bigodaça farta e farfalhuda e ramado até ao tutano. Foi atendido logo a seguir a mim. E que queria aifnal o senhor, que pelos vistos era cliente assíduo da casa. Pois queria à viva força que a sr.ª recepcionista lhe desse um papel, um lápis e telefonasse para o F.C.Barcelona, porque seria ele o autor do projeto do novo estádio do Barcelona. E insistia, insistia. E a sr.ª, com uma paciência invejável, lá lhe ia dizendo que não podia ser, que não era possível contactar ninguém, que ali não era o sítio indicado para expor tão ambicioso projecto. Mas tente, tente e diga-les que sou eu, insistia o senhor. Entretanto vim embora, e não sei como ficou a situação. Mas é provável que a autoria do futuro estádio do Barcelona seja de um português. É obra.

8 Comments:

Blogger J. said...

Duas coisas simples. Votar é um direito, não um dever. Depois, trata de investigar o nome do marmelo tuga.

13/1/06 03:05  
Anonymous Anónimo said...

Vejo, pessoalmente, como se diz em Direito, como um poder-dever.

13/1/06 09:18  
Blogger Bruno said...

Sim, é o típico tuga!!!

E essa linguagem jurídica, André.... é a nossa perdição! ;)

Eu ando mto pelas adopções, uniões de facto, afinidades e parentescos.... Já não posso ouvir a palavra cônjuge....

Espero q t esteja a correr tudo bem aí pela Catalunha.

Gd abraço

14/1/06 01:43  
Blogger J. said...

Meu caro:
Nem sempre o Direito se deverá, ou poderá, ler/ser lido ou adoptar(do) como uma cartilha (formal)...
Em política, porque é disso que tratamos, os deveres respeitam apenas à res publica. As vontades, opções pessoais, são direitos. Por isso mesmo, consta que te podes abster sem que sejas censurado ou punido e, por isso mesmo, votar é um direito. Que poderás, ou não, exercer... Acho que já o fizeste. Pela primeira vez?

14/1/06 04:36  
Anonymous Anónimo said...

Se queres que te diga, o "meu" Direito gosta pouco de espartilhos formais. E, por isso, estou à vontade para fazer o comentário que fiz. Continuo a achar que, para além de um direito (obviamente), é um dever. Sob perigo de andarem para aí a denegrirem a tal res publica. Até te digo mais: quem não vota, por preguiça ou por falta de opinião (ninguém tem falta de opinião na política), não tem legitimidade ética para criticar seja o que for na nossa política. Porque perdeu o tempo de antena, em devido tempo, para escolher.

14/1/06 10:04  
Anonymous Anónimo said...

Meu caro André,

Antes de mais, felicito-o pelo seu gesto «patriótico»! Em eleições tão «sui generis» (e não, isto não é linguagem técnico-jurídica...), votar é mais um «imperativo categórico», a bem da sanidade mental de cada um de nós e por forma a impedir que o nosso País seja ainda mais caricatural!
Quanto à questão jurídica de fundo, todos sabemos que não será verdadeiramente um poder-dever, atendendo a que a coercibilidade de que esta última figura ainda é dotada (embora, como é óbvio, com menor densidade que um direito associado a uma norma a que chamamos de «perfeita») não se verifica no direito ao voto. Constitucionalmente assim aparece consagrado, embora concorde consigo e com opinião anterior, no sentido de que se tratará também (como nos habituamos a dizer, sem reflectir muito no assunto), um «dever cívico», esta última, na verdade, uma figura jurídica a merecer aturado estudo da doutrina.
Quanto ao que mais importa, é sempre muito reconfortante saber que as bigodaças e a pança portuguesa «andem aí»... Portugal no seu melhor...em Barcelona.
Abraço do
André

14/1/06 13:06  
Anonymous Anónimo said...

Caro Pedro, se bem que os candidatos à Presidência de República apareçam sempre, ou quase sempre, ao colo dos partidos da cor política que perfilham, a verdade é que, em teoria, uma eleição à Presidência de República não deve ter nada que ver com partidos, deveria ser isenta e independente. Os custos e os interesses não permitem que assim seja. Não creio que seja verdade, salvo melhor opinião que pode bem ser a tua, que para votar em Alegre, Cavaco, Garcia Pereira, Jerónimo, Louçã ou Soares,seja necessário conhecer de fio a pavio a história e ideologia do comunismo, socialismo, social-democracia, etc., e respectivos protagonistas. Porque numas eleições deste tipo, votas num Homem (lato sensu), numa pessoa na qual, à partida, te revês e cujas ideias, ao menos parcialmente, partilhas. Nao é preciso ser doutor em Ciência Política para se votar, era o que mais faltava. Aliás, seria precisamente o contrário do conceito de Democracia. E desconfio que se assim fosse, nem sequer metade dos candidatos poderia votar. Desde que reúnas o mínimo (na interpretação deste conceito entra o bom-senso) de conhecimento sobre o que vais votar e em quem vais votar e, mais importante, desde que votes de acordo com a tua consciência (que só a ti diz respeito) não vejo porque não hás de votar. E sei bem que o teu caso não é te total alheamento da nossa vida política. Não poderia ser, num homem da História. Quanto ao facto de ter usado a expressão "ninguém tem falta de opinião na política", a sua explicação dava origem a um post de tamanho considerável. É certo que há que distinguir entre "opinião sustentada" e as outras. Além disso, cada vez mais conceitos como "comunismo", "socialismo" e "social-democracia" são letra morta, não passando de isso mesmo:conceitos. Com pouca aplicação prática. Um abraço.

Caro André (não uso o título, para preservar a devida intimidade), obrigado pela sua visita e pelo seu lúcido comentário. Obrigado pelo esclarecimento jurídico, inatacável. Fico à espera de mais visitas. Um abraço.

14/1/06 20:30  
Blogger Susana Vasconcelos said...

Voto em ti, André! :-)
Beijos grandes! Ainda esta semana dou notícias sobre as férias.
Susana

17/1/06 11:11  

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