sábado, janeiro 21, 2006

Tempo de [contra]-reflexão

Como, em tempo de exames, pouco tempo e pouca paciência se tem para a práctica bloguistíca, limito-me a transcrever alguns textos sobre as presidenciais, que subscrevo inteiramente.

"A uma semana. Para os que querem que isto (uma campanha longa, cheia de ressentimentos e de maus fígados) acabe, a advertência: começa na noite de dia 22. Não apenas por causa da noite cheia de facas longas que se prevê. Mas por causa das desculpas que vão aparecer. Até lá vamos ter arrebites, bravatas, cânticos sobre a maré de esquerda que aparece ao dobrar da esquina para salvar a espécie, e sobre a hecatombe prevista para «o monstro» que se encarregaram de fabricar. Ao longo de vários meses, Cavaco foi desenhado como «o monstro» a abater. Esse retrato errante de um poço de defeitos, de uma ameaça fatal, de uma tragédia iminente não assusta ninguém; os seus artífices supõem que os outros são idiotas, um bando de medricas que tem receio de votar contra os proprietários do regime. Nem a esquerda ou a direita têm proprietários e capatazes, nem o país donos para venerar. Escusam de levantar o dedinho autoritário e de fazer ameaças, previsões de catástrofes e de tragédias."

in A Origem das Espécies, por Franscisco José Viegas



"A “arrogância” de Soares, com que parte da direita se delicia, foi arriscar uma candidatura. Sair do pedestal da história. Ir à luta. Fora de tempo, exibindo a política no seu estado puro. Este último combate de Soares é um combate pela política. Não tanto um exercício de arrogância contra os que não lutaram contra o fascismo. Mas o testemunho de um político que se recusa a aceitar que a política seja apenas um exercício de competência. A “obsessão” contra Cavaco Silva é a obsessão contra um político “intermitente” que escolhe as alturas certas para se candidatar a salvador da Pátria e que, sobretudo, a quer resgatar dos interesses mesquinhos dos “políticos profissionais”.
O mundo de Cavaco Silva, asséptico, limitado e sem a mácula da política, é um mundo estranho a Mário Soares que se formou noutros tempos e noutros combates. A sua candidatura nasce deste equívoco, do facto de não ter percebido que, nos tempos que correm, Cavaco Silva é o homem certo para o lugar certo – exactamente porque não é um político. Educado no esforço e na disciplina, Cavaco Silva representa o mérito, o sucesso e a ascensão a que qualquer português pode aspirar na vida. Cavaco Silva é o português novo que fazia parte da mitologia do cavaquismo. O português que quer vencer e que não se resigna. O país, de facto, mudou. Mas isso não retira grandeza ao combate de Mário Soares. Estar fora do tempo é também uma forma de saber estar no tempo."

in O Espectro, por Constança Cunha e Sá
[Nota: apesar de nutrir algum repúdio violento por esta senhora, congenitamente arrogante e inexplicavelmente aborrecida, parece que pela primeira vez na vida tenho que reconhecer que concordo com este seu texto. Quase plenamente.]



"Dia de reflexão.Este bloguer não cavaquista votará Cavaco Silva e não comenta sondagens, indecisos, números, escorregadelas, hipóteses, rastos de glória ou de ressentimentos. Não apela ao voto dos indecisos, porque esses não interessam. Não apela à abstenção. É contra tragédias e lágrimas (porque nenhuma das coisas tem a ver com política). Não alimenta esperanças (porque os resultados são no domingo). Não preza os que têm medo. Não confia nos que têm receitas para tudo."

in A Origem das Espécies, por Franscisco José Viegas

2 Comments:

Blogger FPM said...

De facto, a CCS blogger ou blogueira é bem mais interessante do que a "jornalista".

24/1/06 14:24  
Blogger J. said...

o que gosto em alguns personagens e que não imaginava ter atingido FJV é a timidez/vergonha. não é cavaquista mas vota cavaco? o que é isso?

25/1/06 19:55  

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