terça-feira, junho 14, 2005

De mansinho...

..."assim como quem não quer a coisa", a minha geração vai ficando órfã.
Foi-se Sá Carneiro, Adelino, Mota Pinto, Pintasilgo, Zenha e mais alguns tantos. Sábado, fora do alcance desta internet globalizante, viciante, apaixonante e estéril, ouvi a notícia da morte de Vasco Gonçalves, um então coronel e ex-primeiro-ministro de vários governos provisórios.
Conheci-o, em sua casa, se a memória não me atraiçoa ali para os lados de Campo de Ourique, nos idos de oitenta. Não importam as circunstâncias. Para espanto meu, surgiu-me pela frente um idelista, um (perigoso) utópico, o oposto radical àquele "alucinado" que havia visto e ouvido em vários discursos. Pareceu-me um homem em paz com a (sua) história e percurso.
Perdi-lhe o rasto.
Ontem foi a vez de Álvaro Cunhal. Apesar do oceano ideológico que nos separou, curvo-me perante a sua imagem. Respeito a sua coragem, a sua fé e a sua insistência e persistência. Não confundo estas características com coerência. Cunhal foi sempre um homem de fé. Há uns séculos, teria certamente participado em várias cruzadas e não desdenharia, nunca, ter feito parte da Santa Inquisição. Insistiu e persistiu nos seus ideiais.
Noutros tempos, não teria problema algum em chamar-lhe estúpido. Hoje não. Porque, e disso estou certo, grande parte da sua vida terrena foi tudo menos agradável. Anos de cadeia e repressão e outros tantos de doença. Pelo meio, um percurso político feito de resistência. Que importa dizer que foi em sentido contrário ao da História?
Nunca falei com ele pessoalmente. Apesar de ter relatado muitas das suas iniciativas. Mas, repito-me, curvo-me perante o homem que foi...
...Eugénio deixou-nos. Por incompetência pura e dura, nada mais direi. Foi um poeta do Porto e cuja obra - prometo corrigir-me rapidamente - pouco conheço.
De mansinho...
...este 2005 cheira a orfandade à légua.
E ainda não chegamos a meio.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"(a)Cunhal foi sempre um homem de fé. (b)Há uns séculos, teria certamente participado em várias cruzadas e não desdenharia, nunca, ter feito parte da Santa Inquisição. Insistiu e persistiu nos seus ideiais."
a)Concordo.
b)Discordo, porque creio que separou, no possível numa personagem que alguém designou como "bigger than life", a arte da política.
[mas tb é certo que com o CUnhal não consigo ser muito racional]
filinto

14/6/05 16:22  

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