segunda-feira, março 14, 2005

Beja Santos e as farmácias

Céptico como sou, considero que o recém-empossado primeiro-ministro decidiu abrir uma guerra que, no imediato, considero perdida. Dou-lhe, a José Sócrates, o benefício da dúvida.
Há, em Portugal, dois negócios onde não é possível perder dinheiro. Agências funerárias e farmácias.
O primeiro é tão bom ou tão mau que a maioria das empresas, tradicionalmente familiares na sua génese, se transformou em sociedades anónimas.
O outro são as farmácias. Com a vantagem de estar na mão dos profissionais do sector. Que, zelosamente, impedem a abertura de novas unidades e, em larga medida, substituíram os clínicos nas relações perigosas com os laboratórios. Perdão! Esclareço: num negócio onde vale tudo.
Conto duas histórias.
1 - Trabalhando na “baixa”, tinha uma farmácia bem próxima. Onde comprava tudo aquilo que necessitava. Um dia, precisando urgentemente de um antiácido, uma coisa que custava cerca de 40 euros, lá fui. O funcionário, diligente, aconselhou-me um genérico de determinado laboratório. Quase metade do preço. E funciona.
Ano e meio depois, uma cena idêntica, mas à beira de casa. O genérico havia, só que de outro laboratório. Mais caro. Para obter o que queria esperei três dias. Depois descobri: os laboratórios têm farmácias preferenciais. Quer dizer: há farmacêuticos e funcionários na folha de pagamento, consoante as vendas. Parece um hipermercado.
2 – Fim do ano no Minho. Uma violenta gripe e lá conduzo eu, de madrugada, a paciente ao centro de saúde onde é observada e medicada. Em Caminha há duas farmácias. Uma delas deve estar sempre de serviço. No centro de saúde dizem-me: se calhar é melhor telefonar para acordar o farmacêutico. Estranhei e respondi: “logo se verá!”
Chegado frente à farmácia, situada na praça principal, verifiquei a necessidade de telefonar ao responsável. Deveria estar deitado e dormir o sono dos justos porque, vindo a pé, demorou mais de meia-hora a chegar. E eu cá fora ao frio. E posso-vos garantir que estava mesmo frio. Lá chegado, abriu a porta, pegou na receita. Perguntei se poderia pagar por Multibanco. Nada feito. Perguntei quanto seria. Nem se dignou responder. Lá andei de máquina em máquina até encontrar uma que funcionasse. Felizmente que sou cliente da Caixa. Levantei 40 euros. Passados 40 minutos, o animal lá tinha descoberto e aviado a receita. Cuja importava em mais qualquer coisa. Lá voltei ao Multibanco. Estou a pagar e o imbecil pergunta: “Está cá amanhã?
“Sim”, foi a resposta. “Então venha cá depois do meio-dia para buscar o recibo!”
Entornado o caldo, com ameaça de chamar a polícia, o mentecapto lá foi imprimir o recibo – mais 10 minutos – e teve o desplante de me desejar boa-noite. Resposta pronta: “Vá bardamerda!”
Toda esta operação demorou uma hora e vinte minutos. Eu, na praça. A doente no carro, com o motor a trabalhar para manter uma temperatura minimamente aceitável.
Para cúmulo, descobri que é necessário ter ou levar telemóvel. Caso contrário, no centro de Caminha e naquela altura, não havia cabina pública que nos valesse.
Agora, suas excelências os farmacêuticos estão escandalizados com a possibilidade, aventada por Sócrates, de colocar as aspirinas e outras coisas que tais à venda nos supermercados.
Claro, isto representa um primeiro e muito ligeiro golpe numa máquina de privilégios. Mas mais vale prevenir que remediar…
Simultaneamente, o arauto da defesa do consumidor, de nome Beja Santos, veio a público revelar ter compreendido a razão que levou as grandes empresas de distribuição a apoiarem, julgo que financeiramente, a campanha eleitoral do PS.
Desculpem lá: o sr. Beja Santos é o quê ou quem? Está a fazer de nós todos estúpidos ou está nas folhas de pagamentos da Associação Nacional de Farmácias, da Ordem dos Farmacêuticos ou da São Caetano? É que esta teoria, nem o delgado teria o desplante de exprimir…
PS: Alguém conhece um caso de falência neste sector? E não me venham dizer que todos os farmacêuticos são excelentes gestores...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tirando a história da farmácia, a paciente vem, por este meio, elogiar os funcionários e médicos do centro de saúde de caminha. Eram 3 da madrugada, mas nem por isso deixaram de ser profissionais.
Ass: A paciente

14/3/05 12:03  
Anonymous Anónimo said...

Ainda a questão dos genéricos... Não seria mais lógico haver um genérioco para cada princípio activo? O que existem são algumas marcas de genéricos, uma de cada laboratório, com dosagens e apresentações diferentes para desespero dos doentes que dizem sp ao médico: não é este!! Deste modos, os laboratórios ao invés de atacarem os médicos p impingir marcas, atacam e em força as farmácias para que vendam o genérico X. é do género de proporem aos farmacêuticos: paguem 1 encomenda, nós damos 2 e vocês ganham a triplicar... Beijocas

14/3/05 12:36  

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