Andava o dr. Soares ensimesmado. Com a vida, o Mundo em geral e Portugal em particular.
Sócrates pelo Quénia, algures entre o povo Masai, mostrava as grandes planícies africanas aos filhos. O Lago Nakuru com a milhenta passarada, as múltiplas reservas e todos os animais que ali vivem, excepção feita aos que morreram à míngua de água ou cozinhados para matar a fome do povo.
O País ardia. E ardeu, ao que julgo até anteontem. Nada que não fosse previsível. Desde 2003 andamos em seca permanente e persistente.
As eleições autárquicas aproximavam-se a passos largos. E o dr. Soares ainda mais introspectivo. O seu PS, que não o de Sócrates e companhia, continuava enredado em minudências do tipo Felgueiras, Matosinhos e outras que tais.
António Costa, apesar da boa vontade demonstrada, não conseguia dar conta do recado. Não porque a oposição se mostrasse efectiva e eficaz. Nada disso. Marques Mendes não tinha mãos a medir com Isaltino, Valentim, Carmona/Santana, Menezes/Marco António.
O centrista falava para o espelho. Esquecendo-se que Ferreira Torres é do seu partido e representa o CDS-PP.
E as presidenciais?
Nada.
E o dr. Soares decidiu-se. Meditou no Vau, encerrou-se ali para os lados do Campo Pequeno, foi a Belém ver as mudanças na decoração. E mandou dizer que ouviu vastos sectores da “sociedade civil”. O que quer que isso queira dizer.
Enquanto isto, Alegre sonhava. Imaginava-se a unir toda a esquerda. Ou o que resta dela. Achou, achava, que faria o pleno entre os votantes do BE, PCP e PS, sem esquecer os genuínos MRPP e outros que tais. Asseguro que os há. Conheço alguns. Poucos. Mas conheço.
Por entre jantares, prosseguiu o sonho.
Que o dr. Soares previamente havia antecipado a travado, quando mandou um recado ao eng.º Sócrates. Posta de parte a hipótese Vitorino, só mesmo ele poderia representar o PS. Sócrates fez-lhe a vontade.
E assim, uma vez mais, Soares, Mário, será candidato a Belém.
Hipótese que me irrita.
Não pelo calculismo que presidiu a todo este processo. Será uma repetição de 1985. Quando a esquerda partiu polarizada e venceu, fazendo um (quase) pleno numa segunda volta. A idade do candidato é de somenos importância.
O que me irrita é que este miserável país não consiga regenerar-se e produzir outros candidatos.
Porque, entre Cavaco, o tal reformista e reformador, cujas reformas não conheço, e Soares, cujo percurso e actuação conheço, não hesitarei…