terça-feira, março 29, 2005

Até um dia destes, ou talvez não...

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...do www.tortoedireito.blogspot.com
(rectificado)

sexta-feira, março 25, 2005

Quem tem amigos...

A fonte não é, de todo, de confiança.
No entanto, ontem à noite, pela hora de jantar, num zapping incessante, ouvi uma história cujos contornos já me tinham sido soprados ao ouvido.
A gestão hospitalar é um dos melhores empregos neste país. Aparentemente vale tudo. São requisitados a empresas de amigos, por amigos dos amigos, amigos que os nomeiam e, depois, vale tudo. Até os prémios, atribuídos por alegada boa gestão anterior, são pagos por todos nós. Carrinhos - Audi, BMW e Mercedes, que os doutores não se sentam em qualquer estofo -, cartão de crédito, telemóvel, despesas de representação e tudo o mais.
Parece-me ter ouvido - mas, como disse, não estava muito atento - que havia doutores a debitar os quilómetros do trajecto casa-hospital, a empresa que geriam à nossa custa, distância essa percorrida ao volante de um carro que não lhes custou um tostão, e cujo seguro e manutenção, era eu, e mais uns milhões de imbecis como eu, que pagavam.
Parece que tudo isto consta de um relatório ordenado pelo anterior ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, que agora terá sido concluído.
Parece que o regabofe atingiu tais proporções que a Unidade de Missão dos Hospitais SA não hesitou e começou já a pedir o reembolso das verbas recebidas indevidamente. Apesar disto, não estou muito confiante. No mínimo, espero que Correia de Campos corte a direito e, porque se trata, no mínimo, de peculato e/ou abuso de confiança, suspenda os gestores. Depois, um simples processo disciplinar para despedimento com justa causa. A seguir, tudo para tribunal, já que é/foi o Estado a sustentar estes crápulas. Por fim, se obtida a condenação, que estes competentíssimos gestores fiquem interditos de exercer funções directa ou indrectamente dependentes do Estado durante uma vintena de anos. Isto é: nomes proibidos em negócios com o Estado.
PS1: na intolerável negociata esqueci-me de citar, embora o tenha mencionado, Oliveira e Costa, o tal secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que pontifica no BPN. O mesmo banco que conseguiu calar a Câmara Municipal do Porto, o seu presidente Rui Rio e os competentíssimos vereadores do Urbanismo, Ricardo Figueiredo e Paulo Morais. Assim, por silêncio autárquico, prepara-se para entaipar a Casa de Música.
Como diz o povo: "Quem tem amigos, não morre na cadeia". Nem lá vai parar, acrescento eu.
PS2: Consta que o papel de Fernendes Tato, um fabuloso gestor bancário na reforma à frente do Hospital de São João no Porto, é um mimo. A ver vamos. Não conseguiu, apesar dos esforços, falir o Banco Borges & Irmão. Pode ser que, agora, leve o seu objectivo até ao fim. Por competência, apenas...

quinta-feira, março 24, 2005

Intolerável negociata

Três dias depois das eleições, Dias Loureiro, o BPN e seus sicários, Daniel Sanches, Lencastre Bernardo, um militar eanista do PRD, com a conivência de Bagão Félix arranjaram uma negociata entre a Sociedade Lusa de Negócios (grupo BPN) e o Estado no valor de 500 milhões de euros.
O filme é fácil:
Dias Loureiro, um obscuro advogado de Coimbra ascende ao governo por via de Cavaco. Aí, monta uma rede de interesses que o leva ao BPN, então chefiado por um ex-secretário das Finanças ali de Aveiro, envolvido em várias negociatas que levaram o seu nome a tribunal. Fugas ao fisco, contrabando, o Aveiro Connection.
Daniel Sanches, antes de ir para o governo era funcionário da SLN. Como ministro pressionou o seu colega de governo, Bagão Félix, cujas dúvidas, se as teve, não o impediram de assinar um contrato no mínimo suspeito.Três dias depois das eleições!
Lamento dizer: mas isto cheira a corrupção. À légua...
No mínimo, António Costa só tem uma saída. Anula o despacho do seu antecessor e manda tudo para a Procuradoria-Geral da República. Que, como se sabe, sob a tutela de Souto Moura, é o maior mausoléu nacional. Tudo o que lá entra, morre por esquecimento.
Sanches está de férias, merecidíssimas, dada a sua intensa actividade negocial. Nada comenta, manda dizer. Bagão já terá gabinete, no seu anterior emprego. Dada a quadra pascal, também não comenta.
Já me esquecia: A SPL foi a única concorrente. Grande concurso público. Assim até eu ganhava...
...se fosse amigo do BPN, de Dias Loureiro e de outros que tais...
...e confiasse na tradicional incompetência investigativa da PGR.

Páscoa

Já não me recordo há quantos anos foi. Pela cronologia dos automóveis, terá sido no OO-??-??, um Mercedes 180 que uma família amuada terá ido para cima. Para cima queria dizer qualquer coisa como mais de duas horas de caminho, pela EN-13 que começava – o percurso – ali para os lados de Matosinhos. Para quem vinha das Antas, pois claro.
Os Pais desavindos. A minha Mãe nunca achou grande piada às reuniões familiares dos S..... e dos A.... Lá teria as suas razões. Anos mais tarde, compreendi-a. Embora ache que havia, por ali, alguma rigidez intelectual. Claro, uma das primeiras licenciadas pela Universidade do Porto, que iria ela fazer fazer à província? Aturar um grupo de borracholas, capazes dos maiores desmandos e atentados?
(Acabo de recordar a matrícula: OO-14-67)
O meu Pai, acho que ia com prazer. Embora a ausência do Velho (Pai) fosse difícil de disfarçar.
É curioso: mantenho algumas imagens fortes do meu Avô mas, para espanto meu, não há nenhuma em Valença do Minho.
No Marquês de Pombal 167, na Rua de Passos Manuel 76, em Honório de Lima, mas nada do Campo do Exercício.
Já não me recordo onde dormíamos, que a casa de Valença estava interdita à família, julgo que por insalubridade. A “bióloga” assim o determinava.
Sei que chegamos lá por volta da hora de almoço. Imagino o barulho que deve ter havido cá pelo Porto para obrigar o meu Pai a cumprir horas. (Herdei dele esta característica genética. Mas ele gabava-se de pôr aviões à sua espera. E disso fui testemunha…)
Logo à chegada, e não era grande novidade, peguei-me ao estalo com o meu primo António. Ninguém ligava, era prática habitual, mas devo ter levado uns correctivos porque me lembro de ter ido brincar para a vacaria.
Ao almoço deveríamos ser para aí uns quarenta. O que não era nada difícil. Entre familiares directos, penetras, amigos, inimigos e outros que tais, aquilo mais parecia um refeitório da tropa.
Lembro-me perfeitamente que a cozinha - onde pontificava a mulher do caseiro e mais umas moçoilas que a ausência de hormonas me fez esquecer – dava para três salas da minha (actual casa. A tia Inácia, com aquele timbre de voz que espantava mortos e irritava os vivos, tudo comandava.
Claro que os almoços eram intermináveis. O que, para nós, putos, era um tortura. A vantagem era ter por nossa conta uma área enorme.
Um dos grandes divertimentos era ir à casa de banho. Um desafio. Imaginem um quarto, com janela, onde encostada à parede havia um lambril de madeira com dois buracos, ambos com tampa. O da direita era para os líquidos; o da esquerda para os sólidos mais malcheirosos. Ambos davam para o feno, destinado ao gado.
Havia vacas, porcos, galinhas e porcos. Milho, vinha, árvores de fruto e uma felicidade, artificial ou não, que ainda hoje recordo.
E tios e primos já desaparecidos. E uma família que, em boa verdade, se foi lentamente extinguindo e da qual restam, com conhecimento directo de causa, três.
Perdoem-me a linguagem, pouco apropriada a este blog. Porra, que andamos nós a fazer?
Pai e Mãe, sinto a vossa falta…

quarta-feira, março 23, 2005

O presente envenenado de Santana e Sampaio

Muito gostava de ouvir - hoje, amanhã ou, mesmo, depois - o autor do orçamento de 2005 explicar os pressupostos em que se baseou para elaborar tamanho aborto contabilístico.
Petróleo a 36 dólares, quando já ultrapassava os 40? Perspectivas de crescimento de 2,4%? (Por menos, há gente internada no Júlio de Matos. O problema foi e será a inexplicável conivência do Palácio de Belém...)
No imediato, os culpados são: Santana Lopes, embora à luz dos princípios da psiquiatra forense seja INIMPUTÁVEL, Bagão Félix, porque assinou uma total e completa mentira, Paulo Portas, porque o propôs e caucionou e... por último, Jorge Sampaio porque insistiu numa fraude contabilística ímpar em toda a Europa civilizada. (A Grécia não integra esta qualificação).
Vai uma aposta?
Salvo mais manobras, teremos um défice superior a 6%...
O problema é que Bagão foi de férias, talvez para o sector financeiro privado. Santana, como se sabe, está internado em Monsanto. Portas, de partida para um paraíso (...) dedica-se a ajustar contas pessoais e partidárias com Freitas do Amaral.
Perante isto, repito uma pergunta feita noutras paragens(www.tortoedireito.blogspot.com): que é isso da penalização política? Ninguém vai preso? Por muito menos, o octogenário João Cebola malhou na cadeia...

terça-feira, março 22, 2005

Desejo

É para aqui que ambiciono mudar-me. Vinte ou trinta quilómetros para cima, mas sempre nas margens do rio. Esquerda ou direita. Tanto faz. As Portas da Coroada estão ali à mão...
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Todas as memórias me empurram para lá...

Vendetta

O comportamento da bancada do CDS-PP, líder demissionário incluído, durante o debate do programa do Governo não passou de um ajuste de contas pessoal e partidário com Freitas do Amaral.
Não fosse a (razoável) elevação de Telmo Correia, em minha opinião, nenhum dos pedidos de esclarecimento, travestidos em declarações políticas, teria merecido sequer uma simples resposta "sim" ou "não".
Descobri, também, que o CDS-PP despachou aquele senhor de cabelos brancos que se sentava atrás de Telmo Correia. Agora, senta-se um puto mongolóide, ao que parece da JC, cujo único propósito é tentar agradar à Tégui.
A talm secretária de Estado que, por ser filha e neta de generais, era para ir para a Defesa e, num acto de malabarismo e no espaço de meia-hora, se passou para a Cultura. Soube-se, na altura, que gostava muito de ir às sessões da meia-noite com o amigo Paulo Portas.
Será isto a Direita portuguesa?

segunda-feira, março 21, 2005

Verdades e ambições de JPP/ABRUPTO

José Pacheco Pereira gostaria de ter sido muitas coisas na vida. Já foi algumas. Entre a extrema-esquerda maoísta à direita liberal do (segundo) governo de Cavaco (um contra-senso, já que se trata de um social-democrata) JPP foi membro do Clube da Esquerda Liberal, apoiante de Mário Soares à Presidência da República, deputado e líder parlamentar do PSD. Foi para Estrasburgo e de lá regressou, “chutado” pelo seu próprio partido. Ignorou Fernando Nogueira, idolatrou e venerou Cavaco Silva (fechou a boca mesmo quando os ministros demonstravam a maior das incompetências), passou ao lado de Durão Barroso (que elogiou enquanto MNE) e decidiu – perdido por cem, perdido por mil – em Santana.
Acha-se sob um estatuto muito próprio e ao abrigo de toda a suspeita.
Aceita galardões públicos vindo de gente pouco recomendável. Pactua com tudo, ou quase tudo, que lhe proporcione notoriedade.
É verdade que JPP parece ser coerente. Mas não é.
Como acima disse, JPP gostaria de ter sido muitas coisas na vida. Já foi algumas. Falta-lhe, porém, uma: JPP quer ser director de um jornal. Para isso já mexeu mundos e fundos. Não correram bem, as manobras. Teve azar. Mas a vontade, indómita, ainda lá anda pela Marmeleira.
JPP gostaria de ter sido jornalista. Mas, salvo raras excepções, a profissão paga mal. Salvo, naturalmente, no universo PT e noutros tachos inventados pelo seu próprio partido. Por isso, ciclicamente, JPP decide zurzir os jornalistas.
Em muitos casos terá razão. Mas a generalização é não só abusiva como idiota.
Vejamos:

2005-03-11 in ABRUPTO
«Vai ser interessante ver como o governo do PS vai organizar a sua “central de comunicação” e tentar alargar o seu espaço de tranquilidade na comunicação social. Alguns preliminares já são visíveis para quem esteja atento aos sinais. A ofensiva contra os comentadores políticos que lhes podem ser hostis ou criar problemas já está em curso, só que não é feita da forma grosseira como o governo Santana a fez, mas sim mais sofisticada, baseada em critérios “jornalísticos” ou “institucionais”. Já se nota poder novo no ar...»

Não recordo uma única palavra de JPP contra a central de comunicação gizada por Durão e Santana. Não me lembro de uma única palavra crítica de JPP sobre a entrada do delgado na PT nem sobre a novela da direcção do DN ou sobre o caso Marcelo/Gomes da Silva/Morais Sarmento. Nem uma linha sobre a saída de Rodrigues dos Santos da Direcção de Informação da RTP. Aliás, vistas bem as coisas, só lembro elogios ao último e ao penúltimo…

2005-03-19 in ABRUPTO
«A facilidade com que o “pack journalism” funciona só pode surpreender os incautos. A rapidez com que se tiram conclusões de fundo de meia dúzia de sinais ainda incipientes e pouco testados é notável. É o caso da ideia de que o “comportamento de Sócrates é comparável ao de Cavaco Silva” (presente no Expresso da Meia Noite da SIC Notícias, no Público de hoje e em meia dúzia de comentários avulsos sobre a gestão do silêncio). É um estilo? Talvez seja e se o for é positivo. No entanto, tanto louvor só pode vir da diferença com o passado imediato e não de uma qualquer memória sólida que permita tirar conclusões para além de ontem. Entre ontem e hoje, estou de acordo, a diferença é significativa. Mas quanto a anteontem? Acaso já se está esquecido de que o mesmo louvor se passou com outros governos como o de Guterres e Barroso e, pasme-se, com o de Santana. Se não tivéssemos uma memória pública que nem um mês mantém presente na cabeça, lembraríamos que a formação do governo de Santana foi elogiada também por não ter sido feita na praça pública…»

JPP padece de um mal. Tudo ou quem possa discordar da sua douta opinião, ou é de esquerda ou social, intelectual e ideologicamente menosprezado. Esquece JPP que quem lhe paga o ordenado, não despiciendo – espero que os proventos do PÚBLICO, SIC e reformazinha do PE sejam declarados ao fisco -, são precisamente os leitores e a Imprensa. Exactamente os agentes que JPP vota ao desprezo. Apesar do seu alegado liberalismo intelectual, JPP não perdeu, nem perderá, todos os tiques bebidos a Leste e no Oriente. Só falta saber se na Albânia.


Last, but not the least
2005-03-20 in PÚBLICO
«Eu já ando nisto há muito tempo para perceber os sinais. Mal ou bem, o meu blogue foi uma fonte de citações constantes contra Santana Lopes. Nada que eu não tivesse previsto e não desejasse, porque, em política, espera-se que aquilo que se diz tenha consequências e influência. Sabia igualmente que uma parte dessa atenção vinha do critério jornalístico que considera mais interessante o que diz uma voz vinda do mesmo lado do que a de um adversário que critica por obrigação. É um efeito comunicacional perverso, mas que não permite nenhuma inocência, nem de quem cita, mas, acima de tudo, de quem sabe que vai ser citado por esse efeito. Há aqui duas maldições inevitáveis: uma é que a cizânia vende mais; outra é que se sabe do que a casa gasta e o jornalismo é, em Portugal, uma das profissões mais politizadas que existem, dominantemente à esquerda do espectro político».

Que idiotice!A arrogância intelectual balofa é abjecta. Vinda de quem ambicionou e pretendeu dirigir jornais, é algo inqualificável. Estou já a ver o que seria a Imprensa “livre” sob a tutela de JPP.

«O Abrupto foi por isso um "sucesso" nas críticas a Santana Lopes, embora o seu autor sempre soubesse que tal derivava mais da conjuntura comunicacional e não se iria repetir quando viessem os socialistas. Se houvesse qualquer ingenuidade sobre um mínimo reconhecimento de mérito nas críticas, que tivesse a ver com a sua substância e não com a coreografia dos momentos e das duplicidades de escolhas, oh pavorosa ilusão!, tê-la-ia perdido logo a seguir. Continuemos com a história exemplar das vaidades e ilusões, para a qual alego já o meu total conflito de interesses».

Poupem-nos a mais esta manifestação de inteligência!

«Vai ser interessante ver como o governo do PS vai organizar a sua "central de comunicação" e tentar alargar o seu espaço de tranquilidade na comunicação social. Alguns preliminares já são visíveis para quem esteja atento aos sinais. (…) Como esperava, confesso, os mesmos órgãos de informação que citavam religiosamente o Abrupto e que, nalguns casos, o reproduziam quase integralmente na sua parte política, esqueceram-se de o ler nesse dia, e não devem ter lido esta meia dúzia de palavras, certamente erradas e excessivas».

É mesmo uma maçada. Os jornalistas não acharam interessante citar a produção ideológica do dia.

«Quando escrevi estes "sinais" tive em conta dois motivos próximos, premonitórios, reforçados pela escolha de Santos Silva, um partidário do intervencionismo estatal, para responsável socialista do sector. Um é a ofensiva contra Marcelo Rebelo de Sousa, não contra aquilo que ele diz, porque ainda disse pouco, mas pelo próprio facto de ele ter um espaço privilegiado na televisão pública. É verdade que o lugar ideal para um espaço como aquele é numa televisão privada (... ) Seja como for, ele está lá, numa afirmação de independência da direcção editorial da RTP, e tudo o que hoje for feito para lhe retirar ou condicionar a sua "coluna" televisiva não pode ser entendido de outra maneira do que como uma sanção política».

Salvo na Marmeleira, acho que ninguém ouviu nada sobre um possível afastamento de Marinho ou Marcelo da RTP.

PS: O que eu gostava, mesmo, era ouvir JPP contar o que fez, até hoje, que cordelinhos mexeu, que “cunhas” meteu, para ascender à Direcção do DN. E, já agora, que tivesse a ombridade de reconhecer que, pelo menos algumas vezes, os processos de intenção com que, frequentemente, mimoseia a Imprensa – que lhe completa a reforma -, são motivados por simples inveja e um irreprimível desejo de a dominar…
…mesmo que em nome de uma verdade absoluta e de uma perfeição democrática que subsiste, apenas, na sua mente.

quinta-feira, março 17, 2005

Estranheza

"Vou realizar o sonho de qualquer ministro das Finanças que é ser ex-ministro das Finanças", disse/terá dito, segundo o suplemento económico do «PÚBLICO», um tal de António Bagão Félix, condecorado por Paulo Portas no seu último dia como inquilino do Forte de S. Julião da Barra.
O ex-ministro da Defesa já deverá ter a sua casinha pronta. Por isso, enquanto o pau vai e vem, ocupou a residência oficial do ministério que tão diligente e competentemente exerceu.
Como acima disse, no seu derradeiro dia como governante, Portas condecorou alguns notáveis. Curiosamente, todos do seu partido. Adriano Moreira Bagão Félix e Nogueira de Brito. O primeiro, nada tem em comum com o ex-líder do partido. O segundo, que se saiba não é militante, mas com os conhecimentos que ganhou em três anos de governo poderá ser muito útil no futuro. O último é o único com vida profissional própria. E, ao contrário de tantos e tantos correlegionários do dr. Portas, Nogueira de Brito teve a dignidade de apresentar a sua demissão da Cruz Vermelha antes da tomada de posse do novo governo.
Quantos mais boys, disfarçados ou não, o fizeram?
Bagão, o sacristão das Finanças.
Gostava se ser mosca para conhecer com exactidão o descalabro das contas públicas que este senhor terá deixado.
E já que o seu sonho era ser ex-ministro das Finanças, ao menos poderia ter imitado um ministro da Defesa de Cavaco que, 48 horas depois de ter sido nomeado, abandonou o cargo por incapacidade psicológica. Estava com uma depressão. Legítimo.
Esclareço que conheço pessoalmente este ex-ministro há mais de vinte anos e que, até hoje, nunca duvidei um momento que fosse da sua idoneidade ou integridade.
Se Bagão tinha um sonho, poderia ter optado por esta solução.
Caso contrário: quantos portugueses terão lamentado a saída de cena deste vulto da política nacional?
E já agora: se o seu sonho era ser ex, o que significa não ter apetência pela função, por que raio aceitou o cargo?
Respondo: por imperativo profissional-partidário e porque lhe seria vantajoso conhecer mais uns corredores do poder, um upgrade que facilmente poderá vender a um qualquer grupo bancário necessitado de mais uns favores do Estado.

segunda-feira, março 14, 2005

Beja Santos e as farmácias

Céptico como sou, considero que o recém-empossado primeiro-ministro decidiu abrir uma guerra que, no imediato, considero perdida. Dou-lhe, a José Sócrates, o benefício da dúvida.
Há, em Portugal, dois negócios onde não é possível perder dinheiro. Agências funerárias e farmácias.
O primeiro é tão bom ou tão mau que a maioria das empresas, tradicionalmente familiares na sua génese, se transformou em sociedades anónimas.
O outro são as farmácias. Com a vantagem de estar na mão dos profissionais do sector. Que, zelosamente, impedem a abertura de novas unidades e, em larga medida, substituíram os clínicos nas relações perigosas com os laboratórios. Perdão! Esclareço: num negócio onde vale tudo.
Conto duas histórias.
1 - Trabalhando na “baixa”, tinha uma farmácia bem próxima. Onde comprava tudo aquilo que necessitava. Um dia, precisando urgentemente de um antiácido, uma coisa que custava cerca de 40 euros, lá fui. O funcionário, diligente, aconselhou-me um genérico de determinado laboratório. Quase metade do preço. E funciona.
Ano e meio depois, uma cena idêntica, mas à beira de casa. O genérico havia, só que de outro laboratório. Mais caro. Para obter o que queria esperei três dias. Depois descobri: os laboratórios têm farmácias preferenciais. Quer dizer: há farmacêuticos e funcionários na folha de pagamento, consoante as vendas. Parece um hipermercado.
2 – Fim do ano no Minho. Uma violenta gripe e lá conduzo eu, de madrugada, a paciente ao centro de saúde onde é observada e medicada. Em Caminha há duas farmácias. Uma delas deve estar sempre de serviço. No centro de saúde dizem-me: se calhar é melhor telefonar para acordar o farmacêutico. Estranhei e respondi: “logo se verá!”
Chegado frente à farmácia, situada na praça principal, verifiquei a necessidade de telefonar ao responsável. Deveria estar deitado e dormir o sono dos justos porque, vindo a pé, demorou mais de meia-hora a chegar. E eu cá fora ao frio. E posso-vos garantir que estava mesmo frio. Lá chegado, abriu a porta, pegou na receita. Perguntei se poderia pagar por Multibanco. Nada feito. Perguntei quanto seria. Nem se dignou responder. Lá andei de máquina em máquina até encontrar uma que funcionasse. Felizmente que sou cliente da Caixa. Levantei 40 euros. Passados 40 minutos, o animal lá tinha descoberto e aviado a receita. Cuja importava em mais qualquer coisa. Lá voltei ao Multibanco. Estou a pagar e o imbecil pergunta: “Está cá amanhã?
“Sim”, foi a resposta. “Então venha cá depois do meio-dia para buscar o recibo!”
Entornado o caldo, com ameaça de chamar a polícia, o mentecapto lá foi imprimir o recibo – mais 10 minutos – e teve o desplante de me desejar boa-noite. Resposta pronta: “Vá bardamerda!”
Toda esta operação demorou uma hora e vinte minutos. Eu, na praça. A doente no carro, com o motor a trabalhar para manter uma temperatura minimamente aceitável.
Para cúmulo, descobri que é necessário ter ou levar telemóvel. Caso contrário, no centro de Caminha e naquela altura, não havia cabina pública que nos valesse.
Agora, suas excelências os farmacêuticos estão escandalizados com a possibilidade, aventada por Sócrates, de colocar as aspirinas e outras coisas que tais à venda nos supermercados.
Claro, isto representa um primeiro e muito ligeiro golpe numa máquina de privilégios. Mas mais vale prevenir que remediar…
Simultaneamente, o arauto da defesa do consumidor, de nome Beja Santos, veio a público revelar ter compreendido a razão que levou as grandes empresas de distribuição a apoiarem, julgo que financeiramente, a campanha eleitoral do PS.
Desculpem lá: o sr. Beja Santos é o quê ou quem? Está a fazer de nós todos estúpidos ou está nas folhas de pagamentos da Associação Nacional de Farmácias, da Ordem dos Farmacêuticos ou da São Caetano? É que esta teoria, nem o delgado teria o desplante de exprimir…
PS: Alguém conhece um caso de falência neste sector? E não me venham dizer que todos os farmacêuticos são excelentes gestores...

sábado, março 12, 2005

Derrotas intoleráveis

As sucessivas derrotas que o FCPorto tem vindo a sofrer são intoleráveis. Porque, se vistas à luz dos vários episódios desta época, tudo leva a crer que para os lados das Antas grasse uma epidemia de loucura. Entraram e saíram jogadores a um ritmo nunca visto. A tal ponto que Rossato, tido como o melhor defesa esquerdo do anterior campeonato, foi contratado e vendido (com prejuízo) no espaço de dois meses. Veio um exército de brasileiros sem nexo e, por vezes, de qualidade mais que duvidosa. Veio um treinador italiano que, em Espanha, nem na segunda divisão estaria. A seguir um espanhol, um gentleman, que não conseguiu disciplinar um balneário que, anos a fio, constituía um modelo a copiar. Veio Couceiro e é o que se vê. A equipa não joga, pior, parece ter desaprendido o que sabia, parece não conhecer as posições que deve ocupar, enfim é um desnorte absoluto.
Ontem, uma vez mais, logo no início do jogo o FCPorto já perdia. E que fez Couceiro? Esperou, esperou e só quando Costinha se lesionou, entendeu mudar. Mas, claro, ainda por lá andava o Luís Fabiano e, para cúmulo, mandou entrar um avançado que é garantia de descanso para qualquer defesa com mais de 35 e menos de 50 anos, tantas e tantas são as asneiras que sistematicamente comete dentro das quatro linhas.
O que me irrita mais não são propriamente os quatro golos encaixados. O que acho ignóbil é a incapacidade do treinador em fazer jogar a equipa. Lamento dizê-lo, mas Couceiro não tem estofo nem conhecimentos técnicos para treinar uma equipa com algumas aspirações desportivas. Ainda...
Alguém da SAD, seja Pinto da Costa ou outro qualquer, vai ter de explicar muito bem o que se passou e se passará com a formação da equipa desta época.
No mínimo, espero que Fabiano e Postiga sejam relegados para a equipa D. O primeiro para ver se mostra qualquer coisinha. O segundo para ir de vela virada para outras paragens. Mas não só. Se calhar está na hora de varrer algumas coisas que não estão bem.
Haja decência!
Quanto a Couceiro, espero que vá a Itália, onde a equipa será certamente (espero que não copiosamente) derrotada e venha de lá já na condição de demissionário...
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sexta-feira, março 11, 2005

Quero a minha quota

No Governo de Sócrates, pelo menos ao nível ministerial, parece só haver duas mulheres. Uma delas conheço-a. De incontáveis e incontornáveis tertúlias ali para os lados do “Orfinho”.
Logo se levantaram as vozes habituais. Muitas em defesa de uma deputada da qual, lamento, nunca ouvi falar: Sónia Fertuzinhos.
Pois, pelas quotas, há falta de mulheres. Partindo do princípio, duvidoso, de que a competência entra no capítulo das quotas, gostava de saber quantos deficientes tem este Governo. E já agora, o anterior, o anterior-anterior, o anterior-anterior-anterior e por aí além…
E a quota dos imigrantes? Dos negros? Dos homossexuais? Das lésbicas? Dos transexuais? Dos desempregados? Dos desinseridos? Dos invisuais? Dos obesos compulsivos?
E dos que, como eu, não conseguem resistir aos vinhos do Douro? Apesar dos estúpidos preços?
Poupem-me às quotas! Já chega!...
Vamos ao que interessa. Que é fazer qualquer coisinha por Portugal. Nada mais se exige...

Back to basics

Há poucas horas, na SIC Notícias ouvi, ainda que não muito atento, um ex-ministro de Guterres. Nada menos que Augusto Mateus, o mentor/autor do [seu] plano, um aglomerado de boas intenções cujo resultado foi nada. Ou quase nada.
Custa-me, por isso, ouvir este e outros que tais a debitar opiniões sobre os titulares e composição dos ministérios ligados ao sector: Economia e Finanças. Por várias razões. Porque, nalguns casos, cheira à légua a “dor de corno”. Depois, parecem emergir do fundo do oceano para os tais cinco minutos de fama. Finalmente, porque dificilmente se conseguem libertar do cheiro a mofo. Um problema que preocupa os enólogos e, de sobremaneira, os políticos em fim de vida.
O caso de Augusto Mateus é mais um entre tantos e tantos outros. Independentemente dos partidos onde se encontram filiados ou estão “registados” como simples simpatizantes/apoiantes.

Dou de barato que Campos e Cunha, indigitado ministro das Finanças, terá falado na sua qualidade de académico quando aventou a possibilidade de ser obrigado a subir a carga fiscal. No mínimo, o Professor foi ingénuo. No entanto, e em teoria, isto afigura-se (me) uma (quase) inevitabilidade. Enquanto não for possível apurar com rigor o défice de 2004 – o que será, sem sombra de dúvidas, uma tarefa ciclópica, tantas e tantas foram as manobras – ninguém, com excepção de Nosso Senhor, que parece não ter sido eleito, poderá pronunciar-se sobre o estado das finanças públicas.

Claro que a canhestra afirmação de Campos e Cunha foi, de imediato, aproveitada. Pela Oposição, legitimamente. Pelos auto-intitulados representantes dos agentes económicos com toda a hipocrisia. Senão vejamos: no universo nacional, quantas empresas pagam IRC? Que percentagem das restantes não declara lucros há mais de cinco anos? Que percentagem remanescente, pura e simplesmente não presta contas ao fisco? Finalmente, quanto paga o sector financeiro? E quanto deveria pagar? E a offshore da Madeira?
E nós, os restantes?

Sem qualquer sombra de dúvida. A questão da evasão fiscal será a primeira batalha a travar por Campos e Cunha. Quanto mais não seja para compensar os sucessivos dislates cometidos por Manuela Ferreira Leite e, sobretudo, Bagão Félix.

segunda-feira, março 07, 2005

Saldanha dá-me razão

Saldanha Sanches no «Expresso» de ontem, em resposta às virgens autárquicas, Fernando Ruas incluído.

«O presidente da Câmara de Ponta do Sol encontra-se em prisão preventiva num processo de investigação de irregularidades no seu município. A presidente da Câmara de Felgueiras continua fugida no Brasil. O ex-presidente da Câmara de Oeiras demitiu-se do governo depois de uma notícia sobre contas na Suíça. O presidente da Câmara de Águeda foi acusado juntamente com o deputado Cruz e Silva. O ex-presidente da Câmara da Guarda está a cumprir uma pena de prisão por corrupção. O ex-presidente da Câmara do Porto é arguido num processo ligado com a sua gestão. O ex-presidente da Câmara de Celorico da Beira foi acusado pelo Ministério Público por peculato e outros crimes. O presidente da Câmara de Marco de Canavezes...
Chega. Seriam todos excelentes testemunhas num processo que tivesse como objectivo determinar o grau de corrupção da política local.
São estes processos e muitos outros que não temos espaço para enumerar os verdadeiros baldes de lama lançados sobre os autarcas. Deveriam levar todos os autarcas honestos a inscrever a luta contra a corrupção na sua agenda política.
O que, segundo sabemos, só foi feito até agora pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Rio. A presidente da Câmara de Oeiras, Teresa Zambujo, também mandou fazer uma auditoria à gestão de Isaltino Morais, com comunicação dos resultados à PGR, mas só depois deste ter anunciado a sua intenção de se recandidatar à Câmara de Oeiras. Das buscas da Polícia Judiciária às câmaras municipais nem vale a pena falar. Amadora foi uma das últimas a ser visitadas.
Se continuarmos assim as rusgas nas câmaras municipais acabarão a ser relatadas em pequenas notícias das páginas interiores dos jornais ao lado de outras sobre rusgas da PSP na Cova da Moura.
No entanto, se tudo isto correspondesse a uma eloquente demonstração da eficiência da justiça em Portugal haveria motivo para nos congratularmos.
Mas bem sabemos que não é assim: se estes processos são iniciados (embora nem todos eles tenham fins conhecidos) é porque ainda há magistrados no Ministério Público e membros da Polícia Judiciária que insistem em cumprir o seu dever. E porque muitas vezes há uma convicção de impunidade que leva ao cometimento quase público de crimes.
Tal como sabemos que os crimes de colarinho branco são crimes blindados e de difícil investigação: em países que criaram sistemas de investigação com razoável eficiência existem cálculos feitos por especialistas em criminologia que estabelecem uma relação entre crime detectado e crime cometido da ordem de um para cem. O crime de corrupção pode ser facilmente o crime perfeito. Por cada presidente da Câmara processado quantos o deveriam ter sido?
O corruptor activo mesmo que seja uma vítima da extorsão do agente público não pode denunciar. Quantas vezes já ouvimos a história do «eu tive de pagar, senão nunca mais vinha a licença». Tudo isto poderia ser alterado se houvesse uma vontade política de acabar com a corrupção no poder local. Mas as normas legais que a propiciam não são alteradas.
Por ex., o D/L nº 448/91 tentou proibir a exigência de «quaisquer mais-valias ou compensações» pelas câmaras a empresas de construção. Ou seja: a construtora X faz um prédio ou vários numa certa zona: como condição para conceder a licença de habitação o município exige uma contrapartida. Por exemplo, que a empresa construa a rua daquela zona.
O custo efectivo da obra exigida é um tributo livremente quantificado pela autoridade municipal. E se do ponto de vista jurídico temos aqui uma inacreditável colecção de inconstitucionalidades, do ponto de vista da relação autarquia/construtor temos um poder ilimitado para a autarquia. Compreende-se por isso que as empresas evitem conflitos e litígios com os municípios e cultivem as relações especiais.
E é este o labirinto municipal dentro do qual vagueia atordoada a economia e a sociedade portuguesa. Um poder arcaico e despótico que sente que está a perder a batalha da opinião pública mas que se vai bater ferozmente contra qualquer diminuição de poderes e de privilégios. Qualquer reforma que acabe com as fontes jurídicas da corrupção municipal só pode ser feita, como foi demonstrado pela reforma da tributação dos imóveis, contra a maior parte dos municípios e sem perder tempo em diálogos inúteis».

Aqui, nas palavras do professor, fica o esclarecimento de algumas situações que beneficiam o excelso empresário de Oliveira de Azeméis:

«Adenda: o Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos tem de compreender que a única forma de acabar com as raízes da corrupção é mediante um código deontológico que impeça as acumulações público/privado. Se isso for feito mediante um subsídio de exclusividade óptimo. Desde que o subsídio seja acompanhado de um efectivo acatamento do princípio da exclusividade. O que não podemos ter é técnicos de contas ou revisores oficiais de contas que sejam funcionários da DGCI».

PS: Quem são os contabilistas do empresário de Oliveira de Azeméis? Quem lhe "cozinha" a contabilidade? Quem domina os processos em Aveiro?

Os monovolumes e o (nosso) Estado

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Esclareço desde já que:
Em circunstâncias algumas comprarei um veículo dito monovolume.
Porque:
Não tenho oito filhos. E, se os tivesse, significaria que teria dinheiro para adquirir duas carrinhas que seriam guiadas pelos dois elementos do casal.
Assim sendo por que razão sou agora obrigado a suportar um acréscimo nas portagens das auto-estradas, como forma de compensar as concessionárias pelo prejuízo causado por Santana e seus pares?
Vamos ao que interessa: entre Dezembro de 2004 e Janeiro de 2005, a Porsche vendeu perto de meia centena de “Cayenne”, uma coisinha cujo valor mínimo ronda os 28 mil contos. Nas portagens, estes veículos são taxados como classe 1. A mesma plataforma, mas na VW, apelidada de Touareg, já é classe 2. (O Estado no seu melhor…)
Durão e Santana entenderam fazer um favor à Auto-Europa. Que fabrica os monovolumes mais vendidos em Portugal: o Sharan da VW e o Galaxy da Ford que, aliás, julgo já ter abandonado o projecto.
Logo de início, soube-se que seriam veículos classe 2. O mesmo se passa com todos os jipes e afins.
Qualquer um destes tipos de veículos, foram ou são moda. Asseguro que apenas uma reduzida percentagem de proprietários os adquiriu por necessidade profissional e/ou familiar. Porque, a ser assim, as versões mais vendidas não teriam estofos de couro, GPS, e outros extras que tais.
Aliás, verifiquem os monovolumes que enxameiam a cidade e verifiquem se algum deles apresenta vestígios de crianças no interior. Não senhor. Os estofos estão imaculados, as alcatifas e os revestimentos não ostentam qualquer indício de traquinice.
O Governo fez, portanto, um favor à nossa custa. Mais: conseguiu publicar a legislação sem a ter regulamentado.
O resultado está à vista. Todos pagamos mais nas portagens. Os monovolumes pagam o mesmo - não houve qualquer redução – e quem lucra com isto são as concessionárias.
Repito: a que propósito serei obrigado a comparticipar em modas alheias?
Não possuo nenhum monovolume. Não tenho oito filhos. E os tivesse, arcava com os respectivos encargos financeiros. Não ia pedir nenhuma ajuda ao vizinho.
A isto chamo eu subsidiar coercivamente vícios alheios...

Uma segunda história

Como é possível que uma empresa declare à Segurança Social e ao Fisco salários inferiores ao mínimo nacional, sem que alguém, de entre os zelosos funcionários do Estado e estranhe?
Como é possível ao mesmo empresário pagar salários inferiores aos mínimos nacionais e, ao mesmo tempo, pagar um acréscimo de quase 80%, líquidos e isentos de impostos. Será que as Finanças alguma vez pensaram em ver a contabilidade da empresa em causa e do empresário de Oliveira de Azeméis?
Como é possível que um alegado empresário - detentor de uma série infindável de empresas - continue a afirmar publicamente não ter património quer cubra as incontáveis dívidas que paulatinamente vai semeando pela praça?
E, simultaneamente, presida aos destinos de associações socioprofissionais, obtenha subsídios para tudo, e nada lhe aconteça?
Como é possível deitar a mão em tribunal a uma empresa insolvente, isto em 1991, e desde então continuar a fugir aos credores, mesmo depois de ter obtido a redução dos créditos a 10%?
Sugiro ao Ministério das Finanças que apure com exactidão o que se passa no distrito de Aveiro.
Não me venham com histórias. Cheira à légua a corrupção.
PS: Aliás, o processo dos Recortes de Imprensa, se levado a bom porto e se o Ministério Público tiver feito o seu trabalho de casa, poderá vir a levantar uma ponta (mínima) do véu…

sexta-feira, março 04, 2005

A primeira história

Passado isto, vamos ao que me contaram. Um empresário, dono de três fábricas, decide construir outra num concelho vizinho do Porto. Entregue o projecto na câmara, o pedido ao Ministério respectivo, financiamento à banca e processo no IAPMEI. Aparentemente, tudo legal e escorreito. Concluída a construção, há que pedir a vistoria camarária. Condição imprescindível à obtenção do financiamento bancário e apoios do IAPMEI.
Numa quinta-feira de manhã, três semanas antes das últimas eleições autárquicas, eis que à fábrica chega uma carrinha com três elementos a bordo. Aproximam-se do cais de carga e perguntam ao único humano que ali se encontrava: “Onde está o patrão?”. A resposta foi imediata: “Sou eu!”.
De imediato, um dos fiscais diz: “Está chumbado, isto assim não pode ser!”. E ala que se faz tarde. Por mímica – um dedo indicador em riste – o dito empresário fica a saber que não poderia ter elevado o nível do solo, único modo de possibilitar o acesso de camiões de grande porte. Solução que havia sido indicada por um técnico camarário mas que, parece, contraria a legislação.
Em desespero, o empresário telefona para a câmara pedindo uma reunião com o presidente. Fala com a secretária e relata-lhe o sucedido. E, num rasgo de génio, conclui a exposição: “Acho que estes fiscais devem ser da oposição!”
Recordo: isto aconteceu numa quinta-feira.
Sexta-feira à tarde, o industrial recebe uma chamada da presidência da autarquia informando-o que estava convidado para ir beber uma taça de champagne com o presidente na segunda-feira à tarde, altura em que lhe seria entregue a licença.
Assim aconteceu. Dias depois, um assessor do presidente, que se encontrava em campanha para a sua reeleição, foi à fábrica e, diplomaticamente, “sugeriu” que uma contribuição monetária para o partido seria muito bem vista. Assim foi: 500 contos.
Isto o que é, dr. Fernando Ruas, o autarca-mor de Portugal?

Retiro

Regresso após um período de retiro espiritual, reflectindo sobre a possibilidade de insultar o padre Serras Pereira, um animal que publicou e pagou – ou alguém o terá feito por ele – um anúncio no PÚBLICO digno de um marginal nascido no início do século passado. A verdade é que o padre Serras Pereira conseguiu os seus cinco minutos de fama. Espaço de tempo mais que suficiente para causar um enorme embaraço à Igreja Católica e que nunca a sua mente tacanha poderá aferir.
Plagiando Eça, o padre Serras Pereira “é uma besta”.
PS: poderia o "douto" religioso explicar o que é a "crio perseveração" que consta no texto publicado?

quinta-feira, março 03, 2005

Saldanha, a corrupção, os hipócritas e os empresários

Admito, desde já, que o professor possa ter sido excessivo. Apenas na generalização, mas não certamente no conteúdo.
Saldanha Sanches, provavelmente melhor especialista e docente que comunicador – televisivo ou escrito -, decidiu abrir a boca e dizer que há corrupção da administração autárquica. Olh’à novidade! Ainda não há muito, o mesmo personagem – é-me simpático, devo dizê-lo -, dizia que na administração fiscal se passavam coisas estranhas. Olh’à novidade! Favores, cunhas, envelopes, garrafas de whisky, congressos médicos, passa-me o carro nesta inspecção que eu pago-te o jantar e ainda te levo, depois, ao Pérola ou ao Champagne, desculpem lá, estes rapazes onde vivem?
Meus caros, desculpem-me o cinismo. Neste mundo, cá, terreno e em Portugal - só posso falar de outro país nos longínquos anos de setenta, outro continente e noutro hemisfério - tudo se arranja. É uma questão de oportunidade, habilidade, momento e saber escolher o alvo.
Já agora: alguém se lembrou de saber como está o processo das cobranças fiscais cedidas ao Citigroup, uma invenção da agora tão desejada, no PSD, a ex-ministra Manuela Ferreira Leite?
Muito se fala de fugas e fraudes fiscais. Lamento, mas tanto uma como outra fazem parte da nossa cultura. Que, consabidamente, é adquirida pela prática e pelos exemplos vistos e por todos conhecidos.
Os hospitais sa fogem aos impostos. Aliás, parece que a questão do IVA ainda está em aberto.
Mas que dizer de alguns ditos “grandes empresários” que, vindos do nada, e com a cumplicidade (comprada) de tantos a tantos quadros intermédios da administração pública, de carreira e de nomeação política, continuam a passear-se por aí de Lamborghini, Mercedes e Volvo em completa impunidade…
Como?
É fácil. A “contabilidade” criativa de todo o conglomerado de empresas é feita por elementos das finanças onde está colectado. Que estão comprados. Portanto?
E quando surgem problemas, é fácil. Liga-se ao advogado, assessor do grupo parlamentar da maioria e tudo se resolve. É uma questão de cifrões.
Pois como admitir que ano após ano, o dito empresário apresente nas finanças e na segurança social recibos de elementos de um grupo profissional alegadamente qualificado, declarando salários inferiores ao mínimo nacional?
Poupem-me à hipocrisia os autarcas. Ou não saberão estes que nenhuma das alegadas vistorias camarárias se faz sem o devido pagamento?...
Ontem, por um acaso, jantei com um empresário deste tipo. Que me contou uma história. Passada com ele num dos concelhos limítrofes do Porto.
Amanhã conto. Sem nomes.
O do Lamborghini amarelo - carro que nunca vi, mas do qual obtive relatos -, esse não me escapa…

terça-feira, março 01, 2005

Últimas de Santana

O dr. Santana Lopes, acolitado pelo dr. Bagão Félix, mai-los seus moçoilos do BCP, BES e outros que tais, os grandes, poderosos e ricos que os combateram ao lado do eng.º Sócrates e lhe deram uma maioria absoluta, acabam de inventar uma nova transparência fiscal. Mas como necessitam de financiamentos para as próximas batalhas eleitorais que se aproximam, não resistiram a apresentar publicamente os resultados da "sua" eficácia fiscal. (Vejam bem a "pub" bem visível: 3M, a 3M do sr. Bush...)
Os montantes "recuperados" aos contribuintes relapsos, onde de incluem coimas abusivas, reembolsos ao acaso - a culpa é [como sempre] do sistema informático, tutelado pelo moçoilo do BES - e outras manobras que tais, estão expostos frente à nova sede da DGCI em Lisboa. A tal que já estava pronta desde o tempo de Guterres as que só depois de dissolvido, este governo decidiu ocupar. A fazer fé mas más-línguas da oposição, parece que o mobiiário é do tempo do "arroz de quinze". Seja lá o que for que isto quer dizer.

Este é o mesmo governo que, com a cumplicidade ou (lamentável) distracção do Palácio de Belém decidiu há dias criar um instituto e preencher o respectivo quadro de pessoal já depois das eleições. São só mais quarenta ou cinquenta tachos. Nada de especial...
PS: Voltarei ao tema dos impostos. Com nomes...